O que é Bitcoin?
Bitcoin não é mais uma das formas disponíveis de pagamento virtual. Sequer é uma “forma de pagamento”. Bitcoin é uma moeda.
Uma moeda virtual, naturalmente, mas uma moeda – e neste contexto o termo “moeda” não é usado na mesma acepção de “peça de metal de formato circular… etc”. Mas, é empregada quando se diz que o real, o dólar americano, o yuan, o peso, são moedas. Simplificando: Bitcoin é aquilo que costumamos chamar de “dinheiro”, “bufunfa”, “caraminguá” ou qualquer outra das mais de cem designações listadas no Houaiss.
Portanto Bitcoin é grana – pelo menos para quem transaciona com ele – e está se tornando cada vez mais popular. Então é possível, por exemplo, converter para Bitcoins quantias expressas em dólares americanos desde que conhecida sua cotação. Para ilustrar: ontem, primeiro de janeiro de 2014, a cotação do bitcoin (cujo símbolo é BTC) abriu a 1 BTC = US$ 757,58 e oscilou entre um mínimo de 1 BTC = US$ 750,53 e um máximo de 1 BTC = US$ 774,26.
E quem determina esta variação?
Ninguém. A flutuação da cotação do Bitcoin obedece rigorosamente a lei da oferta e da procura. Certas instituições (as “Bitcoin Exchanges” que, de certa maneira, funcionam como bancos virtuais; voltaremos a falar nelas mais tarde) calculam esta cotação e a divulgam ao longo do tempo. Quer saber o valor exato agora, ou seja, no momento em que está lendo estas linhas mal traçadas? Pois interrompa a leitura e visite o sítio de uma destas instituições, por exemplo a CoinDesk, e veja você mesmo (a boa técnica e o bom senso não recomendam que um autor sugira ao leitor interromper a leitura de seu texto, mas neste caso tenho certeza de que você voltará).
Mas, afinal, o que é uma moeda? O que é dinheiro?
Dinheiro é algo que pode ser trocado por bens, serviços, divisas estrangeiras (que por sua vez também são “dinheiro”), usado como pagamento nas diversas transações financeiras e é amplamente aceito, ao menos pelos que a usam.
Por exemplo: na Roma antiga os legionários eram remunerados com certas quantidades de sal – daí a origem do termo “salário” – e este sal era trocado por bens e serviços. Ou seja: sal era dinheiro. A mim não parece que o sal seja a moeda ideal. Eu, pelo menos, dificilmente aceitaria como moeda corrente qualquer coisa que fosse solúvel em água. Mas no tempo em que o exército romano conquistou a Europa o sal era raro, difícil de obter e extremamente útil, daí o seu grande valor. Além disso, cumpria outras condições que uma boa moeda deve satisfazer: era facilmente reconhecível, difícil de falsificar, transferível entre pessoas, transportável, divisível e fungível. Vou lhe poupar a consulta ao dicionário porque eu mesmo acabei de ser forçado a fazê-lo e não vale a pena duplicar esforços. Do Houaiss: Fungível (adj) – passível de ser substituído por outra coisa de mesma espécie, qualidade, quantidade e valor.
E o bitcoin também atende a todas elas.
Mas não é só isto. Acumular moedas é um meio de armazenar riquezas (vide o famoso cofre do Tio Patinhas), já que podem ser trocadas a qualquer tempo por praticamente qualquer coisa ou serviço (consta que o Sr. Olacyr de Moraes, cavalheiro de certa idade, largas posses e extremo bom gosto que costuma ser visto cercado por jovens deslumbrantes que com ele demonstram grande intimidade, ao ser indagado por um destes jornalistas “provocativos” se achava que aquelas belas meninas gostavam realmente dele, respondeu: “Não sei, nunca perguntei”; e acrescentou: “Quando vou a um bom restaurante e como uma picanha que me agrada, não pergunto se a vaca gostava de mim”; não garanto ser isto verdade, o Sr. Olacyr demonstra uma elegância que o impediria de recorrer a esta imagem tão crua, mas sendo ou não verdade ilustra bem o que eu quis dizer com o “praticamente qualquer coisa ou serviço” lá de cima).
Para ser usada com o objetivo de acumular riqueza, a moeda deve cumprir outras tantas condições: deve ter um suprimento estável, ser durável, fácil de ser protegida dos amigos do alheio e manter um valor estável.
Também estas condições são cumpridas pelo Bitcoin, com exceção talvez da última; mas, afinal, as cotações das demais moedas “oficiais” também podem oscilar (voltaremos a este ponto) e nem por isso entesourá-las deixa de ser um meio de armazenar riquezas.
Finalmente, há ainda algumas características apresentadas pelo chamado “dinheiro vivo”: pertence a quem o porta (está no seu bolso? Então é seu), não mantém qualquer tipo de registro sobre a identidade do proprietário, é fácil de armazenar anonimamente, porém difícil ou impossível de repor em caso de perda ou furto. Todas elas também apresentadas pelo Bitcoin.
Portanto, até agora todas as condições apresentadas como necessárias para que algo seja usado como moeda foram atendidas não apenas pelo Bitcoin quanto por todas as demais moedas oficiais dos diferentes países.
Logo, respondendo à pergunta lá de cima: o Bitcoin é uma moeda, já que atende a todas as condições que devem ser cumpridas pelas demais moedas oficiais.
Não obstante tudo isto, o Bitcoin apresenta algumas características adicionais que lhe conferem algumas vantagens significativas sobre as demais moedas. Todas decorrentes do fato de ser o Bitcoin uma criptomoeda (aportuguesamento do inglês “criptocurrency”).
Primeiro vamos ver o que vem a ser uma criptomoeda, depois quais são as consequências de seu uso.
Uma criptomoeda é um instrumento de troca, ao portador (que não identifica o dono) criado com base em criptografia digital.
E como entender os conceitos de criptografia e criptografia digital é essencial para que se compreenda como todo o sistema Bitcoin funciona, vamos deixar isso para a próxima coluna.
Até lá.
Fonte: Techtudo